Se Meu Destino é Cantar ... Eu Canto ...
Cenair Maica (03/05/1947 - 02/01/1989) No dia 03 de maio de 1947, na localidade de Águas Frias, município de Tucunduva, nascia um menino que se tornaria um dos maiores cantores e divulgadores da região missioneira: Cenair Maicá. Filho de Armando Maicá, popularmente conhecido por “seu Mandico”, e Orcina Lamarque Maicá, desde a infância acompanhou seus pais na travessia do rio Uruguai, mantendo contato com as duas pátrias: Brasil e Argentina.
Conhecia a realidade social dos dois lados, pois criou-se no meio de balseiros e pescadores, vivendo nas carreiras (acampamentos
no meio do mato) que existiam tanto do lado brasileiro quanto do lado
argentino.
Pelo fato dos pais residirem na Argentina, estudou o primário no
colégio General Belgrano, em Três Pedras, Oberá (Misiones). Nesta localidade
também conheceu um dos seus primeiros incentivadores para a arte da música, um
paraguaio de nome Fernandes, que lhe ensinou a dedilhar o violão.
Aos
três anos, Cenair cruzou a fronteira com sua família para viver em acampamentos
de extração de madeira às margens do Uruguai.Este
dado foi decisivo para a formação de sua personalidade musical.
Criado no meio
de madeireiros, balseiros e pescadores, absorveu desde cedo a musicalidade de
suas formas de expressão. Com os peões argentinos e paraguaios que trabalhavam
com seu pai, Cenair aprendeu os primeiros acordes da guitarra.
Quando era piá, ouvia histórias dos povos latino-americanos e das barbáries cometidas contra os índios. Mais tarde sofreu com a dura realidade do homem rural. Porém, também vivenciou momentos alegres em festanças com gaita e violão, o que lhe motivou a aprender a tocar.
A atividade madeireira teve papel importante no desenvolvimento da região Oeste de Santa Catarina
Crédito: ARI SCHNEIDER / ACERVO DE FAMÍLIA / CP
Quando era piá, ouvia histórias dos povos latino-americanos e das barbáries cometidas contra os índios. Mais tarde sofreu com a dura realidade do homem rural. Porém, também vivenciou momentos alegres em festanças com gaita e violão, o que lhe motivou a aprender a tocar.
Cenair
Maicá apresentava em seu trabalho a relação com o rio Uruguai; a preocupação
com os problemas do homem rural e o destino “dos herdeiros de São Miguel” que
viviam à beira das estradas artesanando balaios para pão e “pinga”.
Esta
convivência no meio de madeireiros, balseiros e pescadores, despertaria nele
outro traço comum aos troncos missioneiros: a postura fraternal para com os
países vizinhos. Pode-se ouvi-lo dizer na entrevista gravada no Museu
Antropológico Augusto Pestana: "A história missioneira não pertence
somente ao Rio Grande do Sul, mas também à Argentina e ao Uruguai".
Músico
desde os 10 anos de idade — quando começou a se apresentar em público ao lado
de seu irmão Adelque , Cenair fez sua entrada triunfal na história da música
gaúcha ao vencer o 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé,
na Argentina com Fandango na Fronteira. Na apresentação, Cenair dividiu o palco
com quem a havia composto: Noel Guarany. Foi a consagração de ambos e de cada
um como artista e também dos esforços iniciados pelos dois e por Ortaça em
1966, quando lançaram um manifesto reivindicando a herança guarani e anunciando
a intenção de criar, a partir dela, uma nova arte missioneira.
A vitória no 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina rendeu a Cenair e Noel a gravação de um disco compacto, Filosofia de Gaudério (1970).
A vitória no 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina rendeu a Cenair e Noel a gravação de um disco compacto, Filosofia de Gaudério (1970).
Em
1978, Cenair lançou "Rio de Minha Infância", o primeiro de sua
carreira solo. Solo talvez não seja a palavra adequada: a produção e a direção
couberam a Noel, autor, também, de quatro das dez músicas que o integram.
Nas canções "Homem Rural" e "Balaio", "Lança e Taquara", Cenair fala das agruras que atravessava a gente simples do interior gaúcho: camponeses, balseiros, índios... já na canção "João Sem Terra", Cenair satiriza a política habitacional do regime de 64 descrevendo as agruras imaginárias de um conhecido passarinho: "Ainda bem que o João Barreiro não precisa de alvará: não paga o BNH e usa o barro brasileiro. Mas te cuida, João Barreiro, que os 'hôme' vão te pegar...".
Com
sua voz encorpada e ao mesmo tempo suave, Cenair gravou indelevelmente também
seu nome entre os grandes da arte popular gaúcha. Homem e artista da melhor
extração missioneira, colocou sempre sua voz e seu talento a serviço de sua
terra e de sua gente. A exemplo e ao lado dos outros "troncos
missioneiros" (seus parceiros e amigos Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e
Pedro Ortaça), personificou a identidade histórica e cultural de sua região.
Também junto a eles, foi responsável por inserir as Missões no mapa histórico e
cultural oficial do estado, desencadeando a redefinição de uma identidade
gaúcha até então calcada quase exclusivamente na exaltação dos senhores feudais
da região da campanha.
Cenair
sabia dos obstáculos que existiam no caminho que escolheu. O enfrentamento com
os monopólios fonográficos fazia parte de suas preocupações. "As
multinacionais do disco infiltravam a música norte-americana" — recordou
em uma entrevista, realizada em 1982 no Museu Antropológico Augusto Pestana —
"mas nós tínhamos um compromisso de manter a cultura missioneira".
Nisto, como em muitas coisas, comungava das mesmas idéias de seu parceiro Noel
Guarany.
Cenair
Maicá é, hoje, uma referência para todos aqueles que se propõem defender o
patrimônio natural, histórico, cultural, econômico e, principalmente, humano do
Rio Grande do Sul.
Cenair
Maica conseguiu casar a música com a poesia, mostrar realidades sociais que
eram “esquecidas”. Como ele mesmo destacou, o problema que aflige o homem do
campo merece destaque igual, ou maior, ao dispensado às músicas que tematizam
sobre amor ou boemia. Essa preocupação fica explícita na milonga “Homem rural”,
onde é possível notar a realidade social dos trabalhadores, seja da cidade ou
do campo, simbolicamente na expressão: “enxada em terra alheia nunca traz dia
melhor”.
A
biografia de Cenair tem também um outro aspecto — este de cunho trágico —
Cenair viveu pouco. Aos 17 anos de idade, num acidente, Cenair perdeu um rim, o
que veio, mais tarde a comprometer sua saúde e influenciar em seu falecimento,
em 02/01/1989, após passar por um transplante. Em 1984 iniciaram os problemas
de saúde, e o rim que ainda possuía começou a falhar. Necessitou fazer
hemodiálise, debilitando ainda mais a saúde. Finalmente, em 1985 realizou o
transplante de um rim, sendo o doador o irmão Darci Maicá. A penúltima
internação hospitalar, em dezembro de 1988 teve como objetivo colocar uma
prótese femural.
Em 2 de janeiro de 1989, Cenair Maicá
falecia, deixando em seu registro musical um atestado de amor às suas origens e
a prova de que através da música era possível contar a história de forma
popular, dando voz à memória coletiva, alertando a todos dos erros cometidos no
passado e a necessidade básica de fortalecer a identidade para construção de um
futuro mais humano e social.
Foi construído um mausoléu na entrada do Cemitério Sagrada Família em Santo Ângelo, para homenagear o cantor, compositor e poeta missioneiro, Cenair Maicá.Cenair deixou uma rica herança musical e suas composições, mesmo escritas há várias décadas, não perdem a atualidade. O mausoléu tem dois pilares, um representando a música e o outro a poesia, com uma frase no centro :"Se meu destino é cantar, eu canto". Logo abaixo da inscrição, Cenair Maicá, Cantor Missioneiro, estão mais duas citações. Ao lado da data de nascimento e da sua morte, constam "Nasce o poeta" e "O mundo fica mais triste". Capas de seus discos e fotos também estão no local. Outras duas marcas constantes no mausoléu são a cruz missioneira e um violão, simbolo e material qie Cenair sempre carregava, no peito e nos braços.
Foi construído um mausoléu na entrada do Cemitério Sagrada Família em Santo Ângelo, para homenagear o cantor, compositor e poeta missioneiro, Cenair Maicá.Cenair deixou uma rica herança musical e suas composições, mesmo escritas há várias décadas, não perdem a atualidade. O mausoléu tem dois pilares, um representando a música e o outro a poesia, com uma frase no centro :"Se meu destino é cantar, eu canto". Logo abaixo da inscrição, Cenair Maicá, Cantor Missioneiro, estão mais duas citações. Ao lado da data de nascimento e da sua morte, constam "Nasce o poeta" e "O mundo fica mais triste". Capas de seus discos e fotos também estão no local. Outras duas marcas constantes no mausoléu são a cruz missioneira e um violão, simbolo e material qie Cenair sempre carregava, no peito e nos braços.
Discografia
Videos
Apresentações do trio missioneiro no programa Oigalê Tchê, da RBS TV de Chapecó, Santa Catarina. Cenair Maicá, Chaloy Jara e Jayme Caetano Braun cantaram, tocaram e declamaram payadas em duas noites no Clube Industrial da cidade no ano de 1984.
Ultima Lembrança
Baile do Sapucay
Apresentações de Cenair Maicá no Programa Galpão Crioulo na cidade de Porto Alegre
Apresentação de Cenair Maicá em uma Churrascaria em Chapecó, 1988, acompanhado de Paulo Guerra ao Violão e Gerson Antunes no Acordeon.
Da Terra Nasceram Gritos - 1988
Cepa Missioneira - 1988
Rio da Minha Infância - 1988
1 comentários:
maica foi um grande, sem palavras
Postar um comentário