Acordeões Todeschini

A História dos Acordeões Todeschini - Bento Gonçalves / RS


Luiz Matheus Todeschini nasceu em 15 de Setembro de 1906, em Alfredo Chaves, hoje Veranópolis. Certa vez quando criança foi à casa de Túlio Veronese, que consertava acordeões. Ficou muito curioso ao ver uma máquina rudimentar que fazia botões de ossos de canela de boi para os instrumentos. Em 1914 a família Todeschini mudava-se para Bento Gonçalves na localidade de 15 de Graciema. Aos 13 anos trabalhava na oficina de Luigi Somensi (seu vizinho) que consertava jóias e acordeões . Passando algum tempo veio morar com a família Somensi, Cesari Apiani e Maria Savoia, italianos que fabricavam acordeões, com este casal sem dúvida alguma Somensi e Todeschini enriqueceram seus conhecimentos na fabricação desses instrumentos. Passados dois anos, o casal de imigrantes fixou-se no distrito de Santa Teresa e montaram uma pequena industria de gaitas de botão.

O primeiro acordeon a piano fabricado no Brasil foi feito por eles em 1925, tinha 37 teclas e 80 baixos. Este instrumento participou na Exposição Agro-industrial de Porto Alegre, e ganhou medalha de ouro. Para melhorar as gaitas que fabricavam, Todeschini foi estudar música com o Sr Diacetti em Garibaldi, viagens que fazia de bicicleta e posteriormente a cavalo.


Casa Ferri - Prédio histórico no município de Santa Tereza, RS, localizada na Serra Gaúcha onde  funcionou a primeira fábrica de gaitas do Brasil, criada pelo casal Cesare Apiani e Maria Savoia, no final do século XIX.
.
Acompanhando os movimentos relacionados à preservação do patrimônio histórico, a cidade de Santa Tereza esta executando o restauro da casa Ferri dentre outras casas centenárias construídas por imigrantes italianos. As construções fazem parte de um complexo de 25 casas de madeira e alvenaria que foram tombadas, em 2010, como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A casa foi construída em 1910, na avenida Itália, para servir de moradia ao casal Cesare Appiani e Maria Savóia, pioneiros na fabricação de acordeões na Itália e no Brasil. A edificação funcionou como a primeira fábrica do instrumento no país e foi tombada como patrimônio histórico em novembro de 2010.

O Inicio

Em 1930 morreu Luigi Somensi , Luis Mateus Todeschini ficou então como responsável pela pequena indústria e dividia os lucros com a viúva. Em 1932 já casado conseguia comprar a fábrica mudando-se para a zona urbana de Bento Gonçalves, registrou sua firma com o nome “Grande Fábrica de Instrumentos Musicaes a Foles de Luiz M. Todeschini”, iniciando a produção de forma artesanal dos primeiros acordeões Todeschini. A produção de modo formal dos acordeões Todeschini  começou em 28 de abril de 1939 com o nome Todeschini e Cia. Ltda.

O 1° acordeon foi vendido para Antônio Mazo o 2° para Antônio Romagna , os dois de Bento Gonçalves. Em 1938 ganhava o 1º prêmio na exposição de harmônicas em Santa Maria. Em 1939, transformou a empresa para “Todeschini e Cia Ltda” admitindo alguns sócios a maioria funcionários. Em 1944 adquiriu um grande imóvel, uma cantina de vinhos desativada, já contava então com 56 operários. 

Fabrica
A fábrica - Em 1964 trabalhavam mais de 700 funcionários que produziam mensalmente em torno de 1400 acordeões e 30 harmônios . Retrato de um catálogo da década de 60
Com o grande crescimento da empresa, máquinas modernas eram importadas, o número de funcionários aumentava. Em 1947 foi transformada em“AcordeõesTodeschini SA”. A fábrica abastecia o mercado interno e exportava para o Chile, Argentina; México e América do Norte. Em 1960 os empregados eram mais de 500 pessoas produzindo uma media mensal de 1500 acordeões. Em 1963 começou a fabricar Harmônios . Bento Gonçalves passou a ter a maior fábrica de acordeões da América Latina.

Em 1965 a empresa já exportava seus produtos para
a Argentina, Chile, Venezuela, México e EUA  e começou a enfrentar uma série crise nas vendas internas.O Brasil havia entrado na era dos instrumentos elétricos e as pesquisas mundiais na indústria eletrônica avançavam em velocidade de linguagem binária sobre a área da música. A estridência do som de guitarras elétricas e tecladeiras eletrônicas conquistava uma geração que, disposta a mudar a própria ordem do universo, precisava de volume suficiente para que sua mensagem fosse ouvida acima de qualquer outro som. Os instrumentos acústicos entraram em baixa no gosto da grande massa de consumidores da música: a juventude.

Foto do Interior da Fabrica de Acordeons  Todeschini S/A.



 

Diapasão fabricado pela Todeschini para a afinação dos acordeões
na linha de produção


Embalagens das Limas Importadas dos Estados Unidos que eram utilizadas na afinação dos
Acordeons Todeschini


Embalagem e Ferramenta de Furação importada dos Estados Unidos utilizada na fabricação dos
Acordeons Todeschini 





Soldador a brasa e bastões de estanho utilizados para a  fabricação dos musicamentos dos acordeões e harmonios durante as  decadas de 1939 e 1950.


Letreiros dos Acordeons Todeschini das decadas de 1940 / 1950 e 1960

Letreiro do Acordeon Todeschini Artist 1 - 80 baixos fabricado em 1942

Letreiro do Acordeon Todeschini 8 baixos fabricado em 1943

Harmônio produzido pela Todeschini a partir de 1963






Fotos da Fabrica de Acordeons Todeschini S/A durante a nevasca de inverno em 20/08/1965.




Honeyde e Adelar Bertussi eram os únicos músicos consultores da linha de produção. Eles passavam com freqüência pela fábrica, onde experimentavam as gaitas prontas, conferiam os resultados e sugeriam eventuais modificações. "Os instrumentos eram fabricados de acordo com as orientações dos irmãos Bertussi", testemunha lvo Bondam, uma autoridade no assunto, ele entrou para a Todeschini aos 13 anos de idade e lá trabalhou durante 46 anos. Para cada instrumento finalizado, eram montadas nada menos do que 3.856 peças - todas elas produzidas dentro da própria fábrica.

O Fim

Em 1967 as vendas despencaram violentamente. Foi nesta época que a Todeschini na tentativa de ganhar fôlego, voltou-se para um mercado menos sujeito à ondas, modismos e sazonalidades: o mercado de móveis. O ano era 1968. Para manter o quadro de funcionários a empresa passou a fabricar cozinhas em madeiras. Luis Matheus Todeschini abalado em ver desmoronar seu sonho vendeu sua quota-parte deixando seu nome como marca. No dia 13 de agosto de 1971 um grande incêndio destruiu mais da metade da fábrica, queimando uma grande quantidade de acordeões e danificando quase todo o maquinário.

Incêndio na sexta-feira, 13 de agosto de 1971.

"... ocupava uma área própria construída de 14.000 m2., 470 operários produziam em média, mensalmente, 700 acordeões e 3.000 unidades de móveis diversos." Esta era a descrição da fábrica feita em matéria na edição número 1 da Revista Gaúcha, que Adelar Bertussi e Adelar Neves publicaram durante os anos 70. O texto descrevia o incêndio que, na sexta-feira, 13 de agosto de 1971, atingiu a Todeschini. O fogo ardeu durante dois dias e destruiu completamente as instalações da fábrica.

O trágico incêndio que, na sexta-feira, dia 13 de agosto de 1971, atingiu a Todeschini.
 O fogo ardeu durante dois dias e destruiu completamente as instalações da fábrica.
Mas, já no dia 15 de outubro, a empresa ressurgiu das cinzas, sob a denominação de Todeschini S.A. - Indústria e Comércio, com cerca de 250 acionistas, a maioria deles, os próprios operários da fábrica.

Menos de três anos após aquela sinistra sexta-feira, 13, as novas instalações haviam de novo alcançado 11.000 m2 de área construída e abrigavam 350 operários. Mas a fabricação de móveis havia sido drasticamente aumentada para 8.000 peças mensais, contra uma violenta redução na produção das famosas gaitas, apenas 300 instrumentos por mês. Boa parte delas saiam de Bento Gonçalves diretamente para completar o abastecimento do mercado europeu de outra marca mundialmente conceituada, a Honer.

Depois de restauradas as instalações, a empresa dedicou-se quase que exclusivamente ao setor moveleiro, sendo que por volta 1973 parou em definitivo a produção de acordeões. Em 1976 o que sobrou de peças foi negociado com funcionários onde até hoje Danilo Arcari dá manutenção e monta alguns acordeões.

Luiz Matheus Todeschini faleceu em 17 de abril de 1996 em Bento Gonçalves-RS.


Catalogo dos modelos de Acordeões Todeschini fabricados na década de 1960









Propagandas em Revistas nas Décadas de 1950 e 1960.








Selos de Fabricação

Ao contrario do que muitos acreditam, os selos dos produtos fabricados pela Todeschini não eram um marco de maior ou menor qualidade. Todos os acordeons Todeschini tinham um rigoroso controle de qualidade. Os selos apenas identificam o periodo de fabricação dos acordeons fabricados.

Antes de 1950 os acordeons Todeschini nao utilizavam selos para identificação da data de fabricação. Entre 1932 e 1949 os acordeões levavam apenas a marca TODESCHINI e tinham no seu interior uma etiqueta ou anotação, a lapis ou marcada por carimbo, com as informações de modelo, data de fabricação e nome do comprador.

A partir de 1950 a Todeschini passou a utilizar, alem da datação a lapis e dos carimbos, os selos para referenciar a data de fabricação de seus acordeons, e não mais constavam os dados do comprador.

Etiqueta de identificação utilizada nas gaitas fabricadas pela Todeschini entre 1932 e 1949 -  ( Esta datada de 16/01/1939 )

Esta etiqueta foi encontrada numa gaita de botão 12 baixos Todeschini fabricada na data de 16 de Janeiro de 1939 pelo próprio Sr. Luiz Matheus Todeschini. Veja as imagens dessa reliquia aqui no blog.



Selo da Todeschini (1945 e 1950). Estes selos foram encontrados em em dois acordeons Todeschini. O primeiro, modelo Artist 1 fabricado em 13 de abril de 1945 e outro, modelo Artist 2 fabricado na data de 20 de março de 1950, ambos com caixas em madeira. Veja as imagens do acordeon Artist 2 aqui no blog. 

Não encontramos ainda informações detalhadas sobre este selo. Quem quiser colaborar com nossa pesquisa entre em contato aqui pelo blog.

Selo da Todeschini (1951 a 1955)

Este selo foi encontrado num acordeon Todeschini Artist 2 fabricado no ano de 1953.e em outro Standard 550 fabricado no ano de 1956. Não encontramos ainda informações mais especificas sobre este selo. Acreditamos que tenham sido utilizados entre 1953 e 1956.Quem quiser colaborar com nossa pesquisa entre em Contato aqui pelo blog.
Selo Verde ( 1956 a 1965 )

O selo na cor verde foi utilizado entre os anos 1956 e 1965, porém os melhores (mais bem projetados) acordeons foram fabricados a partir de 1959 até 1971, quando ocorreu o incêndio da fabrica.



Selo Amarelo ( 1966 e 1971 - Antes do Incêndio)

O selo na cor amarela foi utilizado entre os anos 1966 e 1971. Esta foi a última serie de fabricação da Todeschini antes do trágico incendio




Selo Preto ( 1971 a 1973 - Depois do Incêndio)

O selo na cor preta foi utilizado nos últimos acordeões comercializados , os que sobraram após o incêndio, pela Todeschini antes de encerrar definitivamente a atividade de produção de acordeons.





Colaboraram com esta informação sobre os selos da Todeschini os Srs. Arminio Thomazini, que trabalhou muitos anos na fabrica de acordeões Todeschini, e Mano Monteiro, que cordialmente esclareceram algumas duvidas a respeito dos selos e que, com seus conhecimentos e grande experiência, até hoje se dedicam ao oficio de manter essas reliquias em perfeito funcionamento com maestria e talento !


Tabela dos modelos de Acordeões Todeschini fabricados na década de 1960


 Esta tabela foi retirada de um catalogo da década de 60 

Lista de Preços dos Acordeões Todeschini datada de 01 de Março de 1963.




Harmônios fabricado pela Todeschini







Documentário Curtas gaúchas - Consertam-se Gaitas
 


Cronologia da História dos Acordeons Todeschini 1906-1973


1906 - Nasce o fundador Luiz Matheus Todeschini na cidade de Alfredo Chaves-RS.

1914 - A família Todeschini muda-se para Bento Gonçalves.

1932 - Em 5 de outubro de 1932 é fundada a “Grande Fábrica de Instrumentos Musicaes a Foles de Luiz M. Todeschini”.

1939 - A empresa é transformada para “Todeschini e Cia Ltda”.

1947 - A empresa é transformada em “AcordeõesTodeschini SA”.

1971 - Um grande incêndio destrói mais da metade da fábrica.

1973 – É interrompida em definitivo a produção de acordeões. Até esta data foram produzidos mais de 170.000 Acordeões. Danilo Arcari assume a manutenção dos acordeões.

Curiosidades dos Acordeões Todeschini

    De 1932 a 1973  a Todeschini fabricou mais de 170.000 acordeões.

    Em um único mês chegaram a fabricar 1750 acordeões. Um acordeon chegava a ter 3856 peças.
  
    As primeiras retíficas de palhetas usavam como refrigeração leite misturado com água.
  
    A madeira para confecção dos acordeões chegava a ficar secando por 10 anos

    Algumas das madeiras eram, cedro, açoita cavalo, canela e caroba.
  
    A qualidade dos produtos eram tão grande que em 1962 foram fabricados acordeões Todeschini com a marca Hohner (a pedido da Hohner) para venda nos Estados Unidos, um exemplo é o acordeon Carmen IV.

    O verdadeiro n° do acordeon é aquele que tem um numero maior de dígitos, o outro é o n°  da ordem de fabricação.

  O incêndio ocorreu numa sexta-feira 13 de agosto de 1971. Durou 2 dias, queimando em torno de 4.000 acordeões em produção e 700 prontos.

    Os harmonios, espécie de órgão com palhetas e fole, eram fabricados 80 a 100 peças por mês.

    A data de fabricação dos acordeões primeiramente era escrita a lápis, posteriormente passou a ser por carimbo.

    Honeide e Adelar  Bertussi eram consultores de qualidade, garotos propaganda e representantes comerciais daTodeschini e colaboraram em muito na busca da excelencia na qualidade dos instrumentos. 

    A Todeschini também fabricou um acordeon barato para estudantes, sem os baixos.

    A Todeschini mantinha em São Paulo uma escola para acordeonistas.

    As vendas começaram a cair a partir de 1964.

   Os acordeões Todeschini eram anunciados em revistas da época como Manchete, O Cruzeiro, Seleções, etc.

    Luiz Todeschini foi vereador em 1947, vice-prefeito em 1951 e prefeito por quase dois anos em Bento Gonçalves.

   Luiz Todeschini  também foi fundador e sócio-fundador de empresas como vinícola, cutelaria, construtora, moveleira , hotelaria, gráfica, cinema, confecção, rádio ,comercio e outros.

     Por volta de 1963 a Todeschini talvez tenha sido a primeira empresa na América Latina a fazer um recall, pois as vozes foram fixadas com uma cola que acabou enferrujando todas  as palhetas e  consequentemente desafinando o instrumento. Isto abalou muito a empresa, pois ela teve que substituir as vozes e a cola de muitos instrumentos, inclusive de muitos  que já tinham sido exportados, e até hoje aparece acordeon com este problema.


    A Todeschini fabricou também bandoneões, em torno de 1500 peças.

    A Todeschini também fabricou piano eletrônico,violões, guitarras e acordeon cromático.


Colaboradores

Colaboraram com as informações contidas nesta página: Luiz Todeschini, Maria da Glória Todeschini, Euclides Todeschini, Maria Lorena Todeschini, Daltro Bertussi, Dari Amilcare Mortari, Heleno Gimenez, Joana Rissardo Arcari, Danilo Arcari, Luana Ramos, Rafael dos Santos Longo, Mano monteiro, Arminio Thomazini, Orion Instrumentos Musicais.
 
Recanto Das Gaitas | by TNB ©2010